quarta-feira, 29 de agosto de 2012








 caravaggio_narcissus



Uma estranha no reflexo
Não reconheço esta que em meu espelho
Pendura sua face e seu corpo culposo
E na noite que se incendeia
A lua esbanja seu fogo sigiloso

Estranha no espelho, é ela que vejo
As cores da ausência perturbantes
São as mesmas estranhas na escuridão
Que buscam em imagem
O seu alimento, a face do medo

És essa mulher com pênis extravagante
Um seio farto e barba feita
És aquela de longos cabelos
E ombros largos
És aquelas de sobrancelhas fortes
E silhueta definida

És a estranha que me habita rente ao espelho
És o batom vermelho de mãos cálidas
E as cobras negras perfuram suas covas
Querem descobrir quem essa tal estranha é
Um curva e um abismo

Maika Rosseau

sexta-feira, 24 de agosto de 2012



Imagem extraída da net- Pintor desconhecido.



Necrófilo anônimo, eis de ser o projeto de enferma leveza
Pegas teu lado maldito e descavas sepulcros de tuas sedutoras
Fardadas com vestes de morrer, assim que tu as deseja
Frias, comestíveis e inatas, eis um corpo imóvel
Em tua mente algo excitante, algumas íris de cor
Outras, nem tanto
Tu as molda aos teus parâmetros e teus enganos
Feições cadavéricas e ofuscantes, eis de ser tua mente excitante
Tenebrosa essa tua ânsia, implícita nas olheiras
Arriando-as noite a fora, numa gaveta secreta
Em teu ver prontas para o abate, prontas para a cravada de morte
Morte sedutora, enverniza as faces das moças
Janelas do mundo externo, uma lança aguda
Crava nelas e as enterra e desenterra
Carne podre e uma penetração confusa
As tranque e as coma... canse...

 -Maika Rosseau

quinta-feira, 16 de agosto de 2012

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Quadro de-caravaggio-st john the baptist


Desnuda, assim a verdade se pôs presente em meio ao desapego
Intrépido, como a falta que sobra no devaneio da manobra..
Devotamente, louvarei tal movimento condutor de prosas
No emaranhado do tempo, sensual, acalentando o alento, casual.

Divisão celular devidamente posta à prova, usual de convulsões
Uma fera sem dono, rasgando as tripas do abandono, lua afora 
Diligência, afeto e estima por ti astro de falsa luz
Seduz, a verdade estampada selenita, singular, pós-aurora

Estampe em mim pluralidade desta carruagem coletiva e repentina
No imaginário das linhas, estradas vividas, fugindo das naves de rapina
Digna massificação de corpos, foges de mim ar celeste
Como praga que se deteste, a fuga, levemente me entorpece

Por. Maika Rosseau e Robson Silva