A violência
Tu não tens a culpa do que sinto, não es a causa nem a
solução. Muito antes de te conhecer eu já sentia isso, o desespero. O domingo é
o dia sagrado pra mim, o guardo para chorar, para fumar, para ouvir minhas músicas
favoritas e quem sabe até escrever algo como isso. Quando te conheci, vi em
você meu espelho só que mais sociável. Vi um fóton que iluminaria minha vida. Acreditei
que fostes tu o anjo que me levaria para o céu, mas ninguém é anjo de ninguém. Escrevo com tanta dor, mas tu irá ler com os
olhos incrédulos, assim será. Disfarço
minha desgraça, parece que a amo, mas só queria ser uma tola, e seguir a vida
como os felizes seguem. O tempo está curto para os humanos e longo demais para
os miseráveis. Prometo que não iras ler mais nada disso, não estarás sendo
incomodado, confesso que se hoje me dissesse tu que gostaria de estar comigo,
eu agradeceria o favor, mas diria que ainda não aprendi a comer como as pombas.
Tanato
O
início se formou com indagações, esmurrei algumas vezes a parede, exaltei minha
insatisfação pela rejeição. Não podia acreditar que o ser a qual me dedicava
estava de desdém comigo. Depois de uma tempestade dessas, o que fazer? Passei
algumas noites em claro, não dormia de tanta ansiedade, estaria eu amando? Meu peito
doía todas as manhãs, pois passei mais um dia sem senti-lo. Depois de um longo
tempo, a calmaria parecia regressar a meu ser, já havia ocupado minha mente com
tarefas, dediquei-me apenas a escrever, mas ainda ele estava em minhas linhas.
Naquele dia me acordei sentindo o perfume dele em meu travesseiro, esse foi o
primeiro choro do dia, e parecia que ali estava determinado como o resto de meu
dia seria.
Sempre
falava tanto de uma memória falha, ridícula de ineficaz, mas vejamos, me lembro
dele em cada gesto e cada pequeno gesto, me lembro do primeiro beijo, da
primeira palavra e da última, infâmia essa minha. Nessa reta final, expresso minha
insistência nesse amor a qual apenas eu ei de sentir, porém de uma forma
indireta, pois jamais o deixarei dar-se conta do quanto me afeta sua ausência,
aponto de um simples recordar acabar com meu dia. O amor não escolhe pares ou impares,
o amor simula uma batalha para saber quem melhor enfrentará a guerra e talvez minha
vitória não seja essa!
M.
Rosseau
13/12/2017
Carbonne |
03/05/91
A Violência
Daí presumi que você estava
bem, senti seu aire diferente dos outros dias, quem podia imaginar que você estaria
tão devastado? Às vezes me culpo por não entender, por não estar com você naquela
hora, mas penso também que se não fosse àquela hora, seria outra hora. Afinal, você
a faria a hora certa de qualquer maneira, não é? Falei de você para um amigo,
não contive minhas lágrimas, sabia? Pois é, eu chorei por você. Falei de ti tão
brevemente quanto os minutos que antecederam tua morte, mas falei o importante,
quem eras tu para mi, meu amigo, irmão... meu Zequinha. Ouvi a nossa música,
aquela que você me chama de Má Má Má, eu a escuto e não sei que choro ou se
apenas lembro de você, como uma tempestade que durou apenas 6 anos e quando foi
embora deixou um estrago irreparável em, pois nessa tempestade aprendi a nadar,
a me proteger, abrigar. Andei pensando em você, confesso que andas me inspirando
muito, penso na tua morte como a única forma de libertação proveniente, chego a
sentir inveja de você, Zeca. Você está nesse estado onde eu gostaria de estar,
estado inerte, adormecido, o estado de dormência sem as prévias dos sonhos.
Carbonne |
11/10/90
A carta fora violada
Andei pensando na morte, amigo! Iniciei meu ritual diário,
despertei com dor de cabeça, sem vontade de trabalhar. Despertei aborrecida,
senti um pouco de raiva quando você invadiu minha mente. Caminhei diretamente
para o banheiro, desejei que o ralo entupisse, que as brechas da porta e da
janela se fechassem e dentro se inundasse de água, queria morrer. Ainda te escrevo sem êxito, você nunca
responde, deve estar ocupado com sua outra população de amigos. Faz dias que
não falo com minha mãe, sinceramente isso não tem nenhum peso pra mim, não que
não goste dela, mas o fato de ter me dado a luz não muda certas coisas. Ela vai
e volta, anda sem rumo, sem história, ânimo. Os dias estão cada vez mais difíceis
sem seus conselhos, sem sua cantoria, sem sua calmaria, não demora não, volta
logo! Sinto sua falta!j
Carbonne |
11/09/89
A carta
violada
Estive
ouvindo Réquiem do Mozart e lembrei o quão triste é poder desfrutá-la sem a sua
carne presente. Lembrei do nosso almoço de domingo, da sua voz que acalmava até
ventania, era tão bom, eras meu amigo fiel. Como sabes em tudo que lhe escrevo
sempre levo meus deprimidos momentos a você. Hoje cheguei a pensar que o que
mais me entristecia havia finalmente me deixado, me enganei. Despertei como uma
tonta sem culpa de sê-lo, olhei para o travesseiro do meu lado e lá vi um rosto
imaginário, era ele meu amigo, voltou para me lembrar que ainda está em mim, em
meu âmago. Dediquei quinze minutos na cama, mirando um nada e pensando como é difícil
compreender o que nosso cérebro quer! Sei o que meu estômago quer, sei o que
minha bexiga quer, mas o que meu cérebro quer? Quer me fazer de louca? Talvez ele
se divirta com isso! Uma vez me acordei de quando você me questionou do porquê
não me refiro ao coração quando falo de amor, pois é e eu te respondi que esse
teu nome não combinava com você! Tenho essa mania de dar nomes as pessoas e
porque não dar órgãos ao amor? Minha lástima hoje se chama hipocondria! Hoje
tentei ficar bem, e fiquei!
Carbonne |
A prévia de tudo foi a nossa ingenuidade, foi a que zarpou de nós, foi como a alma se libertar da carne no momento exato de nossa morte, apenas. Também, vi transformarem as bolas de neve em armas, os beijos em uma chapa quente, os abraços em esmurro. De toda a lama que propunha nosso evento pensei em ti em cada momento. Onde estarás tu, dentro de uma carta que finjo escrever para outra pessoa, mas aqui estás, de uma maneira ou outra.
Nunca
entenderei o porquê, mas assim como apareceste, sumiste. Sinto uma dor no
peito, assim como se acelera um carro numa rodovia cheia de buracos, crateras.
Essa ladainha é só pra quem pode entender o que é se ver sozinho, inerte, sem
vontade de
Sabe, ando
meio covarde esses últimos meses, ando deprimida e sem vontades. Tento me
distrair, acredita? Logo eu... Enfim, agora ando fingindo ser outra pessoa,
mais fria, mais indiferente. O que mais dói é que teus conselhos se apagaram de
minha mente como se alguém os tivesse roubado durante meu sono, isso me
entristece. Uma vez te falei que estava
gostando de alguém, você me respondeu que me conhecendo bem até a noite esse
sentimento estranho vindo de mim, passaria. Pois é, meu amigo, aconteceu de
novo, de forma mais intensa e desta vez não passou até a noite, foi a noite em
que ela se alumbrou.
M.Rosseau
Psicológico, niilista e pós-romântico.
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