sábado, 21 de abril de 2012

Edward Munch - Pain



As ruas da cidade morta


-Caminhando pelas ruas vazias, eu me sentia como se a rua tivesse entupido de pessoas que me sufocavam e me tiravam a tranquilidade, e que de tão cheia não deixava o vento me tocar. Queimando até a morte, assim era o nome de uma rua a qual eu andava todos os dias e mesmo assim não sabia onde ela daria, pois tinha medo de saber onde levava. Lembro-me que em todo esse tempo que vivo aqui nessa cidade tão morta a única vez que vi outro ser vivo foi há uns meses atrás, um cachorro pra ser mais especifica, ele estava deitado no chão, gemia e gemia o gemido que me fazia sentir toda sua dor e todo seu desespero, ele estava com seu corpo queimado e a carne tinha cheiro de podre, e em um desvio rápido observei que ele mesmo estava a comer suas próprias tripas e o gemido se tronou uma audição de prazer e satisfação. Sai correndo e com lagrimas nos meus olhos perturbados e arregalados, minha respiração mal acompanhava meu ritmo. É enlouquecedor como as pessoas me faziam falta, não por serem objetos de satisfação pessoal, mas sim por preencherem o vazio que as ruas da cidade morta tinha, os carros vazios e enferrujados, lojas com seus vidros quebrados e papeis e sujeiras ao chão, essa era a imagem que eu via todos os dias. Nem o sol se atrevia a aparecer e me banhar com sua luz e se ao menos se mostrasse, eu saberia que haveria esperança, mas nem isso ele fez por mim. Olhem só pra mim! Estou chamando o sol de “ele”, como se fosse alguém, estou sozinha demais, eu entendo, mas o que eu posso fazer se preciso de algo em que me segurar? Eu quero e preciso de esperança. Estou me alimentando do ar, e bebo minha saliva acumulada, mas minha sede é de calor humano e de atenção humana. Estou entrando nas lojas quebradas e sem mais clientes, apenas eu e o vácuo que por hora se estabiliza no meio. As ruas vazias fazem barulhos, o vento quando bate nos carros ou algum obstáculo é como se assobiassem e em seus assovios eu danço e danço, movo-me só, canto só, vivo só, como é trágico não ter pra quem se mostrar, ou pra quem se vender e doar. Quando a rua não sai de mim, pego um agasalho e protejo-me de todo aquele frio que o calor humano privava. Quero vender minha alma, mas minha alma não tem a quem ser vendida, talvez uma pedra no meu caminho ou um ferro enferrujado queira minha alma em troca de um pouco de sentimento. As ruas daquela cidade morta me matavam todos os dias, todos os dias zombavam de mim, todos os dias me mostravam como era estar só no mundo.

Maika Rosseau 

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